sexta-feira, 20 de maio de 2016

Simbolismo / Augusto dos Anjos - A Ideia

Caros leitores, segue um post especialíssimo de um expoente da Literatura Brasileira, pertencente ao período do Simbolismo... Augusto dos Anjos (1884 - 1914). Publicou "Eu" de 1912, sua única obra. Augusto dos Anjos possui características que mesclam diversos períodos literários. É um poeta mórbido, paradoxal, virulento, pessimista. Apresenta vocabulário científico, típico do Naturalismo, as formas do Parnasianismo (soneto, métrica e rima), o prisma negativista do Decadentismo, as sonoridades do Simbolismo (áspera e dissonante), exploração do horrendo e do disforme do Expressionismo, a incorporação do "antipoético" do Modernismo e as notações absurdas e insólitas do Surrealismo.

Descrição física de Augusto dos Anjos, por Órris Soares (contemporâneo de Augusto dos Anjos).

"...magreza esquálida, faces reentrantes, olhos fundos, olheiras violáceas e testa descalvada. A boca fazia a catadura crescer de sofrimento, por contraste do olhar doente de tristura e nos lábios uma crispação de demônio torturado (...). Os cabelos pretos e lisos apretavam-lhe o sombrio da epiderme trigueira. A clávícula arqueada. Na omoplata, o corpo estreito quebrava-se numa curva para diante. Os braços pendentes, movimentados pela dança dos dedos, semelhavam duas rabecas tocando a alegoria dos seus versos. O andar tergiversante, nada aprumado, parecia reproduzir o esvoaçar das imagens que lhe agitavam o cérebro (...), um pássaro molhado, todo encolhido nas asas, molhado de chuva." Extraído da Coleção Objetivo. Edição: 2004.

A Ideia

De onde ela vem?! De que matéria bruta
Vem essa luz que sobre as nebulosas
Cai de incógnitas criptas misteriosas
Como as estalactites de uma gruta?!

Vem da psicogenética e alta luta
Do feixe de moléculas nervosas,
Que, em desintegrações maravilhosas,
Delibera, e depois, quer e executa!

Vem do encéfalo absconso que a constringe,
Chega em seguida às cordas da laringe,
Tísica, tênue, mínima, raquítica...

Quebra a força centrípeta que a amarra,
Mas, de repente, e quase morta, esbarra
No molambo da língua paralítica!

(Augusto dos Anjos)